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4º Painel da erva-mate mostra estudos promissores e aborda a primeira indicação geográfica (IG) de erva-mate

O quarto painel do evento on-line “Erva-mate XXI: Inovação e Tecnologias para o Setor Ervateiro, realizado no dia 03/12, abordou os temas “Comercialização, Mercado, Agroindústria e Novas Demandas do Setor”. Este evento foi organizado pela Embrapa Florestas e contou com a parceria do IDR-Paraná, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 

Na primeira palestra, o professor Cícero Deschamps, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), falou sobre os estudos que vêm sendo realizados para avaliar as substâncias presentes na erva-mate: as metilxantinas e os compostos fenólicos. Segundo o professor, os diversos usos da erva-mate e o mercado promissor despertaram o interesse de estudar como estes compostos bioativos são sintetizados na planta. 

Para identificar a presença e o percentual destes compostos foi feito um protocolo analítico a partir de calos de erva-mate, possibilitando a identificação de vários componentes. “Nos animou bastante a possibilidade de utilização dessa técnica como uma forma de produção de compostos bioativos e com uma condição como essa é possível induzir e aumentar a síntese desses compostos”, explica Deschamps.

Outro estudo relatado trata-se da parceria da UFPR com a Leão Alimentos e Bebidas. A empresa demonstrou interesse em utilizar o protocolo definido pelos pesquisadores para monitorar e maximizar a utilização dos resíduos obtidos nos processos de produção e também identificar possíveis gargalos. Outro foco deste trabalho é avaliar o potencial de utilização dos subprodutos como fertilizante na agricultura. “Quando se fala em resíduos, a borra do mate vai ser avaliada com relação ao seu potencial de utilização como fertilizante orgânico. Para tanto, serão feitas análises do teor de macro e micronutrientes”, explica.

De acordo com Dechamps, este trabalho também visa analisar a matéria-prima (a erva-mate cancheada) proveniente do campo, identificando fornecedor, época e região de colheita, sistema de cultivo, tipo de solo, datas de recebimento, beneficiamento, torração e a geração da borra. “Todos estes fatores são importantes na produção da erva-mate quando se pensa em qualidade ou em uma boa concentração de bioativos. Com essas informações tentaremos fazer uma análise multivariada e ver qual o peso de cada um desses fatores, visando a produção de bioativos. Esse registro vai se correlacionar depois com a qualidade da erva-mate que chega na indústria”, explica.

Primeira IG de erva-mate brasileira

O segundo palestrante foi Fernando Toppel, do IG-Mathe, contando a exitosa experiência de indicação geográfica (IG) da erva-mate da região de São Mateus do Sul-PR. A Mathe é a primeira IG deste produto do Brasil, título pleiteado a partir de 2014, por meio de um trabalho em conjunto com Sebrae, sociedade civil organizada, Prefeitura Municipal e outras instituições. O grupo realizou um levantamento histórico com dados de produção, fotografias e livros que comprovaram a notoriedade do produto ali gerado, fazendo com que, em 2017, obtivessem o registro junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial-INPI.

Ter uma Indicação geográfica é ter o reconhecimento de que uma região ganhou notoriedade (indicação de Procedência -IP) ou apresenta vínculos relativos a de um produto ou serviço de qualidade (Denominação de Origem – D.O). A IG serve para proteger e agregar valor a um produto, serviço ou região, evidenciá-lo, além de garantir sua origem. 

De acordo com Toppel, no mundo há cerca de 10 mil Indicações geográficas registradas, com um mercado que movimenta U$ 50 bi ao ano. Entre as IGs mais famosas estão a Champanhe, na França, o Vinho do Porto, em Portugal e o queijo Parmesão, na Itália. O Brasil possui 73 IGs, sendo 14 Denominação de Origem e 59 Indicações de Procedência. Destas, 24 estão na região Sudeste, 22 na região Sul, 15 no Nordeste, oito no Norte e quatro no Centro-oeste.

Após o registro obtido, o grupo de produtores e indústrias se uniu e criou a Associação dos Amigos de Erva-Mate de São Mateus do Sul, entidade que gere a IG. A associação conta com 74 associados, incluindo indústrias, viveiristas, amantes do chimarrão, donos de restaurantes e hotéis. Além de São Mateus do Sul, fazem parte os municípios de Mallet, Rio Azul, Rebouças, São João do Triunfo e Antônio Olinto. 

Segundo Toppel, nesta última safra, foram, ao todo, 29 produtores, compondo 257 hectares de talhões, aptos a produzir e entregar para as indústrias erva-mate com indicação geográfica. “O preço médio de venda do produto sem indicação geográfica é R$10,00 e com o registro é R $20,00 por quilo. Então vimos que tem valor e mercado e as pessoas procuram este produto diferenciado”, afirma. Até o ano de 2019, a média de colheita foi de 30 mil quilos de folhas. Em 2020 tiveram um aumento significativo para 157 quilos, devido, principalmente à exportação.

Toppel destacou também outros aspectos advindos com a IG, como, por exemplo, a criação de novos produtos com selo distintivo, contendo logomarca e QR code, que permitem a rastreabilidade. Ele também listou uma série de vantagens obtidas indiretamente com a IG, como, por exemplo, a profissionalização do setor, com o curso de Boas Práticas Agrícolas, bem como a adoção de tecnologias, por parte dos produtores. As indústrias também precisaram passar por um processo de Boas Práticas de Fabricação. Outro ganho apontado é com relação à visibilidade nacional através de mídias espontâneas e o investimento público em obras relacionadas à cultura da erva-mate, como a Rua do Mate, em São Mateus Sul. A área está em construção e visa ser um importante atrativo turístico para a região.

Dezenas de estudos

Encerrando o painel, a pesquisadora Cristiane Helm, da Embrapa Florestas, abordou o potencial de novos produtos por meio do processamento para erva-mate. Helm citou uma série de trabalhos que vêm sendo realizados pela Embrapa, em parceria com outras instituições. Todo este investimento em pesquisas na área é justificado, já que, além de ser o segundo maior produto nativo brasileiro (perde só para o açaí), foi constatada, recentemente, a existência de mais 200 compostos bioativos na erva-mate.

Com a análise das folhas, verificaram-se os vários compostos (os flavonóides – quercetina, rutina, ácido gálico, catequina, epigalocatequina galato, as metilxantinas-cafeína, teobromina e teofilina e os compostos fenólicos – ácido clorogênico e ácido cafeico). Conforme explica a pesquisadora, tais substâncias possuem funções específicas para a saúde humana, como anticancerígenas, antioxidante e antitumoral e vêm sendo usados em vários produtos, como, refrescos, sorvetes, cerveja, licor, blends, energéticos, suplementos, cosméticos e velas. 

“Diante da complexidade e riqueza metabólica na formação de compostos fenólicos e flavonoides em erva-mate, cada vez mais, os pesquisadores veem a necessidade de isolar estes compostos e avançar na pesquisa na questão de purificação de compostos específicos da erva-mate”, explica Helm.

Entre as dezenas de estudos apresentados pela pesquisadora, vale destacar o Comunicado Técnico 363 – que avaliou o efeito do solvente na extração de teobromina e cafeína em progênies de erva-mate. “Após este estudo, conseguimos avançar muito nas pesquisas. Em seguida, outro estudo viu a relação dos teores de cafeína e outros compostos relacionados à herança genética e aos fatores ambientais”, conta. 

Dando continuidade aos trabalhos, várias pesquisas citadas por Cristiane Helm vêm buscando avaliar distintos aspectos, como a composição mineral, por exemplo. Outros têm trabalhado na seleção de clones mais produtivos ou com maior teor de cafeína ou descafeínados. Têm também estudos que buscam desenvolver uma embalagem biodegradável ativa e inteligente com aplicação em vegetais refrigerados, bem como pigmentos naturais e filme curativo para feridas.

Já outro estudo tratado avalia as atividades antibacterianas e antioxidantes de extratos de erva-mate em que se constatou o efeito inibitório destes extratos frente a duas bactérias patogênicas para alimento, mostrando que os extratos de erva-mate teve um bom resultado com relação à inibição destes microrganismos, podendo ser utilizados como agentes antioxidantes em alimentos naturais.

Outro trabalho que merece ênfase, dentre os diversos citados pela pesquisadora, está o estudo que desenvolveu esferas de alginato com extrato de erva-mate, que podem ser adicionadas às bebidas. Essas esferas contém os compostos bioativos encapsulados, que os protegem da degradação da digestão. “A erva-mate tem muitos compostos e as esferas evitam que eles sejam degradados já no estômago e que não sejam absorvidos devidamente, mas, sim, lá no intestino”, explica a pesquisadora. O estudo fez toda a digestibilidade in vitro, com várias coletas de todas as etapas da digestão, dos compostos fenólicos e dos radicais. 

“Considerando a rica composição química desta planta, há um enorme potencial de inovação que deve ser explorado para o desenvolvimento de novos produtos, permitindo sua aplicação tecnológica nas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética”, acredita Cristiane Helm.

A gravação do painel está disponível no Canal da Embrapa no Youtube.

Fonte: Embrapa

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