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Setor sucroenergético sinaliza reação após meia década de estabilidade

Novas usinas chegam ao Estado e podem retomar crescimento e quebrar recorde de safra

João Prestes

O setor sucroenergético veio num crescimento contínuo ao longo de décadas em Mato Grosso do Sul, tanto em área plantada quanto em produção, até atingir o maior volume colhido na safra 2016/2017 com 50,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Em 2022 foram produzidos 2,7 bilhões de litros de etanol e 1,74 milhão de toneladas de açúcar. Desde então, o setor tem demonstrado estabilidade nos números, com pequenos recuos ou avanços.

Na última safra, por exemplo, foram colhidos 48,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, crescimento de 2,71% em relação ao volume da safra anterior. Os números da safra 2021/2022, segundo a Biosul (Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul), apontam para um volume de 41 milhões de toneladas de cana-de-açúcar colhidos com produção de 1,3 milhão de toneladas de açúcar e 2,4 bilhões de litros de etanol.

Para se ter uma ideia da magnitude desses números, o consumo de etanol em Mato Grosso do Sul no ano passado totalizou 365 milhões de litros, portanto o Estado produziu sete vezes mais que sua necessidade interna. Importante lembrar que 90% do etanol produzido aqui é destinado ao consumo de Estados vizinhos como São Paulo e Paraná.

O crescimento acelerado do setor, verificado a partir da primeira década dos anos 2000, acompanhou o movimento de expansão do cultivo da cana-de-açúcar pelo país. É o que avalia o diretor-executivo da Biosul, Érico Paredes. No âmbito regional, as políticas públicas de incentivo foram essenciais e permitiram a construção de um bom ambiente institucional para o fortalecimento do setor como um todo, afirma Paredes.

“Acredito que isso se mantém como um diferencial para Mato Grosso do Sul e é um dos fatores que impulsionam esse novo ciclo de investimentos do setor nesse período pós-pandemia, tanto para novas plantas como também para as unidades que já estão em operação no Estado. O mercado também contribui com a melhora na competitividade dos biocombustíveis”, frisou.

Lavoura de cana-de-açúcar em crescimento: tecnologia e sustentabilidade

Números

A cultura ocupa atualmente 800 mil hectares no Estado, espalhados por 39 municípios, sendo que 84% das lavouras estão concentradas na chamada região Conesul. Estão em operação 17 usinas, todas produzindo etanol hidratado (o etanol usado como combustível), enquanto 12 unidades produzem o etanol anidro (que é misturado na gasolina); 10 produzem açúcar e todas transformam o bagaço e a palha da cana em eletricidade, responsáveis pela geração de 2,3 megawatts/hora de energia em 2021, mais do que consumiram todas as residências do Estado no período (2,1 MWh), conforme dados da concessionária de energia.

Todas as usinas destinam a totalidade do bagaço e um percentual significativo da palha da cana para cogeração de bioenergia, assegura o diretor-executivo da Biosul. Nada é desperdiçado nesse ciclo, talvez o mais completo e moderno do setor produtivo rural. Mato Grosso do Sul foi um dos primeiros Estados a mecanizar 100% da sua colheita e avança na utilização da vinhaça como adubo orgânico e na produção de gás metano através de biodigestores, tecnologia que indica o futuro próximo da atividade.

Mato Grosso do Sul está posicionado nos primeiros lugares do ranking nacional do setor. É o quarto maior produtor de cana-de-açúcar e exportador de bioeletricidade para o SIN (Sistema Integrado Nacional) e o quinto maior produtor de açúcar e de etanol. A atividade gera mais de 30 mil empregos diretos e só com o pagamento de salários, injetou mais de R$ 834 milhões na economia em 2021, conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), órgão do Ministério da Economia, e da Biosul.

Reação

Vencido um período longo de estabilidade, quando fatores climáticos interferiram na produtividade, seguido da crise provocada pela pandemia que abalou a economia em geral no país, o setor tem emitido sinais de que há espaço para retomar o crescimento. No início do ano o Grupo Pedra Agroindustrial S/A, de Andradina (SP), anunciou a aquisição da planta da Usina Orbi Bioenergia, localizada na Fazenda Toca da Coruja, no distrito da Vila Raimundo, em Paranaíba. O empreendimento estava semiacabado e pertencia à Companhia Energia Renovável (Cern) e com a troca de dono passou a se chamar Usina Cedro.

A expectativa é concluir as obras e começar a produção em 2024, quando se espera moer 1,2 milhão de toneladas de cana-de-açúcar até chegar à plena capacidade da planta de 5 milhões de toneladas. O investimento previsto na conclusão da Usina Cedro é de R$ 400 milhões e serão gerados até 1.200 empregos diretos e indiretos, conforme anunciou o Grupo na época.

Usina São Fernando, adquirida pelo Grupo Pedra Agroindustrial e em fase de desmontagem

O mesmo Grupo Pedra Agroindustrial comprou os bens da massa falida da Usina São Fernando Ltda, localizada em Dourados, no primeiro trimestre do ano, porém sem intenção de reativar a planta, parada há mais de um ano. A usina está sendo desmontada e os equipamentos transferidos para a planta em construção no município de Paranaíba.

Mais uma usina começa a ser instalada na Costa Leste do Estado, no município de Anaurilândia. O Grupo Agroterenas pretende reativar a antiga Usina Aurora com investimento de R$ 100 milhões em 2024 e a previsão é que sejam gerados 650 empregos diretos na produção  de 80 mil metros cúbicos de etanol por ano.

Milho

É nesse contexto que duas fabricantes de etanol a partir do milho se instalam em Mato Grosso do Sul, o que vai elevar consideravelmente o volume produzido. A Inpasa Agroindustrial está sediada em Dourados e iniciou as operações em abril com capacidade para produzir 400 milhões de litros de etanol ao ano. O investimento superou R$ 2 bilhões e, além do etanol, a planta já pode fabricar até 360 toneladas ao dia do DDGS (proteína utilizada na formulação de ração animal) e 37,5 mil litros ao dia de óleo vegetal. Na segunda fase, o volume da produção deve dobrar.

A segunda fabricante de etanol a partir do milho que chegou a Mato Grosso do Sul é a Neomille, pertencente ao grupo sucroenergético CerradinhoBio, dono do maior complexo produtor de bioenergia da América Latina. A Neomille está sendo implantada em Maracaju com investimento de R$ 1,4 bilhão e deve iniciar as atividades em 2023. Quando operar em capacidade total, pode produzir até 550 milhões de litros de etanol de milho ao ano. 

Juntas, as duas empresas acrescentarão em torno de 950 milhões de litros de etanol ao volume já produzido no Estado, caso a produção se mantenha nos níveis atuais. Mas com a chegada de novas usinas de cana-de-açúcar, os números devem mudar para melhor no setor e Mato Grosso do Sul pode ganhar uma posição no ranking nacional dos maiores produtores de bioenergia, ultrapassando Minas Gerais.

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